2005/12/03

Ainda sobre Fernando Pessoa e outras coisas mais

De Isabel Coutinho, transcrevo do suplemento "Milfolhas", do jornal Público, pelo seu manisfesto interesse didáctico:

"O É a cultura, estúpido! realiza-se na última quarta-feira do mês, às 18h30, no Jardim de Inverno do Teatro Municipal de São Luiz, em Lisboa. Depois de dois anos a discutirem a actualidade, estão agora a "tentar adivinhar o futuro - o que aí vem em vários domínios". As sessões passaram a ser temáticas, com um painel de convidados e a animação da conversa garantida por dois apresentadores rotativos - um moderador e um "agente provocador", ambos da equipa residente (Anabela Mota Ribeiro, Daniel Oliveira, José Mário Silva, Nuno Costa Santos, Pedro Mexia e Nuno Artur Silva, coordenador).
E porque foi precisamente na última quarta-feira do mês passado que ocorreram 70 anos sobre a morte de Fernando Pessoa, que figurava nas antigas notas de 100 escudos, e a sua obra ficou em domínio público, esse era tema do encontro que ali decorreu. Pois quem não teve a possibilidade de estar presente no debate poderá, agora, muito refastelado em frente ao computador, consultar o blogue do evento, organizado pelas Produções Fictícias.
Ora no blogue os interessados podem "comentar, perguntar, adivinhar, criticar, fazer futurologia, sugerir, descrever, enviar fotos, linques sobre o tema ou ficheiros mp3".
Estão lá alguns dos conteúdos do debate anterior cujo tema era "A televisão, tal como a conhecemos, acabou" e onde várias pessoas participaram enviando perguntas. Para a preparação da sessão sobre Pessoa as perguntas não abundaram, pelo menos não estão colocadas "on-line", mas os organizadores foram colocando poemas de Pessoa todos os dias, bem como "links" para "sites" que referem o escritor, curiosidades, imagens e textos de alguns dos membros da equipa residente. Está lá um "post" com a frase "Faça você mesmo" e com um "link" para a Online Magnetic Poetry, um "site" muito giro onde se pode brincar com as palavras tal e qual como o fazemos com aqueles jogos de palavras feitos com os ímanes que se colocam nos frigoríficos.
Há uma citação de Umberto Eco que dá que pensar: "As obras literárias convidam-nos à liberdade de interpretação, porque nos propõem um discurso a partir dos inúmeros planos de leitura e nos colocam perante as ambiguidades da linguagem e da vida. (...) [Mas] em relação ao mundo dos livros, proposições como "Sherlock Holmes era solteiro", "a Capuchinho Vermelho foi devorada pelo lobo mas depois libertou-a o caçador" e "Anna Karenina mata-se" permanecerão eternamente verdadeiras e nunca poderão ser refutadas por ninguém. Há pessoas que negam que Jesus fosse filho de Deus, outras que inclusivamente põem em causa a sua existência histórica, outras que afirmam que "é o Caminho, a Verdade e a Vida", outras ainda que consideram que o Messias ainda está para vir e nós, seja como for que pensemos, tratamos com respeito estas opiniões. Mas ninguém tratará com respeito quem afirmar que Hamlet se casou com Ofélia ou que o Super-homem não é Clark Kent. (...) O mundo da literatura é de molde a inspirar-nos a confiança de que há algumas proposições que não podem ser postas em dúvida, e oferece-nos, por isso, um modelo, imaginário até onde quisermos, de verdade. (...) A função dos contos "inalteráveis" é justamente esta: contra todos os nossos desejos de mudar o destino, dão-nos palpavelmente a impossibilidade de o alterar. E assim fazendo, seja qual for a história que contem, também contam a nossa e por isso os lemos e amamos. Temos necessidade da sua lição "repressiva". A narrativa hipertextual pode educar-nos para a liberdade e para a criatividade. É bom, mas não é tudo. Os contos "já feitos" ensinam-nos também a morrer. Creio que esta educação para o Fado e para a morte será uma das principais funções da literatura." in "Sobre Literatura", de Umberto Eco (Difel)
Há um "link" para o blogue de Rui Almeida, Poesia Distribuída na Rua e um outro para um blogue inteiramente dedicado a Fernando Pessoa.
E prometem vir a colocar resumos da sessão de quarta-feira moderada por José Mário Silva e que teve como convidados Fernando Cabral Martins, Richard Zenith, Manuela Parreira da Silva, Pedro Mexia e José Afonso Furtado (que leu um texto que será colocado "online" sobre o futuro do livro e da leitura). "I know not what tomorrow will bring", a última frase escrita por Fernando Pessoa, em inglês, foi o mote da sessão. A esperar estamos."