2006/01/28

Morreu o escritor Orlando da Costa

Diz-nos o Diário de Notícias: "Nascido em Lourenço Marques, hoje Maputo, no seio de uma família goesa, de brâmanes católicos, Orlando da Costa foi criado em Margão, Índia, de onde partiu muito do perfume e sabor dos seus escritos. Ficcionista, dramaturgo, poeta, morreu, ontem, em Lisboa, onde chegou aos 18 anos e se licenciou em Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras. Contava 76 anos. Era pai de António Costa, actual ministro da Administração Interna, e de Ricardo Costa, jornalista.

Apaziguador no uso da palavra, não alheado da acção cívica, pulsa na sua obra uma consciência social e política lado a lado com um olhar minucioso sobre o coração dos homens nos seus amores e desamores, na alegria, no sonho, no deserto da solidão.

Colega de Maria Barroso, de Augusto Abelaira e de Jacinto Baptista, Orlando da Costa, militante do PCP, apoiou a candidatura de Norton de Matos e foi preso três vezes pela Pide (1950-1953). Da última vez, permaneceu no cárcere em Caxias por cinco meses e uma semana (acusado de militar em defesa da paz). Aí escreverá a sua tese. Passou pelo ensino particular até ser proibido de ensinar e trabalhou na publicidade.

Os seus livros de poesia, como A Estrada e a Voz, Os Olhos sem Fronteira e Sete Odes do Canto Comum circularam amiúde entre os amigos e os intelectuais, mas O Signo da Ira, totalmente passado em Goa (Prémio Ricardo Malheiros, Academia das Ciências, 1961), vendeu dez mil exemplares, apesar de a Pide o ter proibido de circular. A mulher, em seus anseios, fragilidades e força, esteve sempre no centro da sua prosa, como em Podem Chamar-me Eurídice ou em Os Netos de Norton.

Mário de Carvalho destaca a "humanidade e companheirismo" de Orlando da Costa, classificando a sua prosa como "muito apurada". Para José Manuel Mendes, presidente da Associação Portuguesa de Escritores, de que Orlando da Costa foi vice-presidente, a obra do romancista é "um dos momentos mais relevantes da ficção portuguesa".

O corpo está em câmara ardente na Basílica da Estrela desde ontem, seguindo o funeral às 18.00 de hoje para o Alto de São João."