2005/06/29

Peripécias culturais...

A ler, com desenvolvimentos, no Abrupto, esta lamentável história.

Ainda Eugénio de Andrade




O último número do suplemento "Milfolhas" do Público é consagrado a Eugénio de Andrade, apresentando textos de Maria Helena da Rocha Pereira, Fredereico Lourenço, EduardoLourenço, Almeida Faria, Mário de Carvalho, Vasco Graça Moura, Eduardo Prado Coelho, Manuel Gusmão, José Bento, António Ramos Rosa, Carlos Mendes de Sousa, Arnaldo Saraiva, João Barrento, Jorge sousa Braga, Pacheco Pereira, Gastão Cruz, Alfredo Margarido, Jorge Rdrigues, Clotilde Rosa, Teresa Cascudo, Jorge Pinheiro, Artur Santos Silva, Eduardo Pitta, José Tolentino Mendonça, Pedro Mexia e Mário Cláudio. Como se vê a lista é longa... e espero não ter falhado nenhuma referência.

Também a úlima edição do JL, a nº 906, nos oferece alguns textos sobre o Poeta, de Eduardo Lourenço, Carlos Reis, Maria Alzira Seixo, Arnaldo Saraiva, Lídia Jorge e Teolinda Gersão.

Aproveito para registar que esta edição do JL traz ainda textos sobre Álvaro Cunhal e René Bértholo, duas figuras importantes da cultura portuguesa falecidas também no início de Junho. On-line podemos ler um texto de Urbano Tavares Rodrigues sobre a obra literária de Álvaro Cunhal. Na edição em papel encontramos ainda textos de Mário de Carvalho, António Pedro Pita, António Borges Coelho e Rui Mário Gonçalves. A propósito de René Bértholo, encontramos um texto de Filomena Serra e testemuhos de Costa Pinheiro e Jorge Martins.

2005/06/22

Carta de Pêro Vaz de Caminha é Memória do Mundo

Citando o jornal Público:

"O Registo da Memória do Mundo da UNESCO - programa de reconhecimento internacional criado em 1997 para arquivo de colecções documentais com relevo histórico - incluiu este ano mais 29 inscrições de 24 países (ascendendo assim a 120 o número total de registos), entre os quais Portugal está representado com a carta de Pêro Vaz de Caminha sobre o achamento do Brasil (século XVI).

A França registou este ano três testemunhos (entre eles estão os filmes Lumière); a Suécia e a Áustria inscreveram dois; e Alemanha, Hungria, Ucrânia, Sérvia e Montenegro, Noruega, Reino Unido e Itália são os outros países da Europa cujas colecções de arquivos e bibliotecas foram registadas como legado documental para o Mundo.

A lista deste ano inclui ainda os manuscritos da Idade Média sobre Medicina e Farmácia do Azerbaijão; os testemunhos documentais, denominados Arquivos Negros e Escravos, sobre o esclavagismo na Colômbia, e o alfabeto fenício no Líbano. Para além dos registos, o Comité Consultivo atribuiu o primeiro prémio UNESCO/ Jikji Memória do Mundo à Biblioteca Nacional da República Checa, no valor de 24 mil euros."

Aqui fica também a notícia difundida pela UNESCO.

2005/06/20

Sobre cânone literário

O Diário de Notícias de hoje publica um interessante texto de Pedro Mexia sobre cânone literário, intitulado "O segundo maior":

Aconteceu com Sophia de Mello Breyner. Aconteceu com Eugénio de Andrade. Em muitos depoimentos e obituários, admiradores proclamavam Sophia ou Eugénio (e por vezes ambos) "o maior poeta português depois de Pessoa". Ou, numa formulação mais pueril, o "segundo maior" poeta português contemporâneo.

Como escrevi em várias ocasiões, gosto muitíssimo dos poemas de Eugénio e de Sophia. Mas considero arriscado e escusado decretar que A ou B detém o posto de "maior poeta português depois de Pessoa". Agora dizem Eugénio e Sophia. Mas porque não Sena? Ou Nemésio? Ou Carlos de Oliveira? Ou Herberto? Ou Cesariny? Ou Ruy Belo? É perfeitamente admissível escolher um destes seis. E com argumentos válidos e sólidos.

A poesia tem sido a nossa forma de expressão artística mais conseguida e mais povoada. Mas não podemos canonizar cada poeta que morre como o maior desde. E se fosse o terceiro maior? Ou talvez o quinto? A conversa descamba no ridículo. Eugénio ou Sophia são claramente poetas importantes. Mas não somos nós, seus contemporâneos, que conhecemos a sua relevância no cânone português em termos absolutos. Daqui a 100 anos é que isso se percebe. Para nós, neste momento, são grandes poetas. E isso é suficiente. Não são necessários mais epítetos.

Devo confessar que a própria expressão impositiva e dogmática ("depois de Pessoa") me incomoda um bocado. Pessoa é sem dúvida o centro do cânone português moderno. Mas acho absolutamente admissível contestar a sua olímpica superioridade (embora creio que só Vasco Graça Moura se tenha atrevido a tanto). Por exemplo como indefectível nemesiano, sustento que Vitorino Nemésio é comparável a Pessoa. No sentido de que não é incomparável. De que podemos comparar. Nemésio é um enorme poeta, como Pessoa é um enorme poeta. Mas para mim, pessoalmente, Nemésio até foi mais importante do que Reis, Caeiro ou o Pessoa ortónimo. Repito: essa é apenas a minha experiência pessoal como leitor de poesia. Mas essa mesma experiência pessoal é que motiva elogios e epítetos.

Não temos nenhuma visão global sobre a poesia na nossa época. Temos apenas alguns poetas que amamos mais que outros. Isso basta.