2005/07/26

António Lobo Antunes em Salzburgo

O Público de hoje noticia o seguinte:
"O Festival de Salzburgo, inaugurado ontem e que decorre até 31 de Agosto, conta este ano com a presença de António Lobo Antunes no lugar de escritor residente. O famoso festival austríaco reserva também habitualmente um papel de destaque para a literatura e o drama teatral, para além da ópera e dos concertos que tradicionalmente figuram no programa. Entre as actividades que envolvem o escritor português constam a adaptação teatral de Os Cus de Judas, nos dias 12 e 13 de Agosto, e leituras do Tratado das Paixões da Alma, no dia 15. Existirá ainda uma sessão de homenagem ao escritor português, com a participação de Albert Ostermaier, conceituado artista alemão que se dedica à poesia e ao teatro, e do compositor e guitarrista Bert Wrede.
António Lobo Antunes disse ontem ao PÚBLICO estar surpreendido com o convite. "Por um lado, é sempre agradável; por outro, esta unanimidade inquieta-me", notou o autor, referindo-se aos inúmeros prémios, homenagens e convites que tem recebido nos últimos tempos, entre os quais se destaca o conceituado Jerusalem Prize 2004. "O que me preocupa, mais do que qualquer prémio, é começar a escrever o meu novo livro", acrescenta o escritor.
O Festival de Salzburgo contará ainda, extraprogramação musical, com a presença da coreógrafa Pina Bausch e dos prémios Nobel da Literatura John Coetzee e Elfriede Jelinek."

2005/07/21

"Bibliotecas para a Vida", Conferência Internacional em Évora

De 27 a 29 de Outubro, vai decorrer a Conferência Internacional Comemorativa do Bicentenário da Biblioteca Pública de Évora, intitulada BIBLIOTECAS PARA A VIDA "Literacia, conhecimento, cidadania"; fica aqui o Programa. A organização está não só a cargo da Biblioteca Pública de Évora, mas também do Ministério da Cultura e do CIDEHUS.

2005/07/19

Criações Literárias Contemporâneas


Abre no próximo ano lectivo um novo Curso de Mestrado, na Universidade de Évora, intitulado Criações Literárias Contemporâneas. Pode obter aqui todas as informações.

2005/07/13

11ª Jornada Nacional de Literatura - Passo Fundo (RS), Brasil


Deixo-vos a notícia da Câmara Brasileira de Letras, sobre importantes iniciativas simultâneas que ocorreram de 26 a 29 de Agosto em Passo Fundo (RS), no Brasil:

"Mais de uma centena de escritores tais como Ignácio de Loyola Brandão, Luis Puntel, Ana Maria Machado, Ariano Suassuna, Domingos Pelegrini, Bia Hetzel, Carlos Heitor Cony, Ferreira Gullar e João Ubaldo Ribeiro, além do norueguês Jostein Gaarder, autor de O Mundo de Sofia, do francês Gilles Lipovetsky, de Os Tempos Hipermodernos e das portuguesas Margarida Rebello Pinto e Clara Ferreira Alves, entre outros, já confirmaram presença na 11ª Jornada Nacional de Literatura, edição 2005 de um dos maiores e mais conceituados eventos literários do País.

Tânia Rösing, idealizadora e organizadora, define a Jornada como uma grande manifestação cultural e explica que as caravanas das pré-jornadas de preparação já começaram. O grupo itinerante visita até julho as cidades-pólo dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro.

O escritor Ignácio de Loyola Brandão, coordenador dos debates da Jornada, explica que a Jornada tem um caráter multiplicador com a participação intensa de professores e jovens que realmente foram preparados para o evento: "Na minha primeira palestra, há várias edições, eu recebi 280 perguntas por escrito. Eu já viajei muito mas não conheço outro evento literário como esse na Europa, Estados Unidos ou América Latina. Deveria entrar para o Guiness".

Para o secretário de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul, Roque Jacoby, a Jornada é o exemplo de que o livro "é realmente o melhor meio de que a sociedade dispõe para aprimorar o cidadão". Oswaldo Siciliano, presidente da Câmara Brasileira do Livro, explicou que a CBL dará todo o apoio ao evento: "A Jornada de passo Fundo é um exemplo a ser seguido por todos os municípios brasileiros, pois prova que com empenho, planejamento e o trabalho em conjunto dos setores público e privado a difusão do hábito de leitura no Brasil é plenamente possível".

São Paulo terá um envolvimento especial com a 11a Jornada. O Sesc São Paulo desenvolverá um trabalho em suas unidades e a secretaria Estadual da Educação incentivará seus estudantes do Ensino Fundamental para participarem do concurso 9º Concurso Josué Guimarães sobre a obra do escritor Hans Christian Andersen.

A cada edição bienal a Jornada atrai um número maior de autores e leitores. De um tímido começo, há 24 anos, quase restrito a uma iniciativa acadêmica, a Jornada atinge hoje mais de 20 mil participantes diretos, e seus fóruns de discussão tornaram-se referência no mundo literário, conferindo grandeza ao evento e subscrevendo a história de Passo Fundo como o cenário das Letras no País. Além de pré-jornadas organizadas como preparação para o evento no Rio Grande do Sul e em outros estados, duas semanas antes acontece o Festerê Literário, com várias manifestações culturais em vários pontos de Passo Fundo.

Outros autores internacionais confirmados: Mauro Maldonato (Itália), Mia Couto (Moçambique), Ronald Jobe (Canadá), Tassadit Yacine (Marrocos/França), Carlos Reis (Portugal) e Antonio Yebra (Espanha). Entre os diversos escritores nacionais também participarão Frei Betto, José Castello, Moacyr Scliar, Marisa Lajolo, Nelson de Oliveira, Lobão e Daniel Piza.

Promovida desde 1981 pela Universidade de Passo Fundo (RS), a Jornada deste ano, com o tema Diversidade Cultural - o diálogo das diferenças, acontece entre os dias 22 e 26 de agosto, e traz uma série de novidades, a começar pela a realização do Encontro Nacional da Academia Brasileira de Letras que, pela primeira vez na história, ocorrerá fora de sua sede. A Jornada inclui o 4º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio e o Seminário Nacional de Jornalismo Cultural, além da oferta de 30 diferentes cursos livres de literatura, formação de leitores, dramaturgia, publicidade, língua, cultura surda, samba, pintura e língua estrangeira. Destaca-se ainda a 3ª Jornadinha Nacional de Literatura, dedicada ao público infanto-juvenil.

A 11ª Jornada inova também nos prêmios. Neste ano, o 4º Prêmio UFP Zaffarini & Bourbon de Literatura conferirá R$ 100 mil para o melhor romance em Língua Portuguesa publicado entre junho de 2003 e 30 de maio de 2005. Autores de contos inéditos têm a oportunidade de participar do 9º Concurso Josué Guimarães, com prêmios de R$ 5 mil e R$ 3 mil para primeiro e segundo colocados. Alunos da 4ª, 5ª e 6ª séries podem se inscrever ao Prêmio Hans Christian Andersen, fazendo releituras do renomado contista dinamarquês, com prêmio de uma viagem à Dinamarca de uma semana (incluindo a capital Copenhagen e a cidade de Odense, onde nasceu o escritor. Para os estudantes de Publicidade e Propaganda foi lançado um concurso exclusivo, premiando também com uma viagem a Copenhague a melhor campanha sobre a obra do autor de histórias inesquecíveis como O Patinho Feio, O Soldadinho de Chumbo, João e Maria e a Roupa Nova do Rei, clássicos da literatura infantil.

O bicentenário de Andersen, os 400 anos de Miguel de Cervantes Saavedra, criador de Dom Quixote de La Mancha, obra-prima da literatura universal, e o centenário do consagrado Érico Veríssimo, autor da trilogia O Tempo e o Vento serão reverenciados durante a 11ª Jornada, em diferentes homenagens durante os cinco dias do evento.

Encontro Nacional da Academia Brasileira de Letras

Reinventando os Clássicos é o tema do Seminário da Academia Brasileira de Letras (ABL) que, pela primeira vez em sua história, realizará um encontro fora de sua sede, no Rio de Janeiro. Pelo menos nove acadêmicos já confirmaram presença para os três dias de debates sobre a influência dos grandes clássicos em suas obras.

O Seminário será aberto pelo escritor Ivan Junqueira, presidente da ABL, com o painel Manuel Bandeira e a Consciência Poética. Carlos Drummond de Andrade e Gonçalves Dias serão os temas do segundo dia do encontro, com a participação dos acadêmicos Ana Maria Machado, Antônio Carlos Secchin e João Ubaldo Ribeiro. No encerramento, Alberto da Costa abordará O Ateneu, de Raul Pompéia, uma das mais significativas obras do realismo brasileiro. Arnaldo Niskier falará sobre O Olhar Pedagógico de Machado de Assis e Carlos Heitor Cony apresentará sua visão da obra Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida.

3ª Jornadinha Nacional de Literatura

Com atividades diversificadas, sempre de acordo com a faixa etária, a Jornadinha de Literatura chega à sua terceira edição já como sucesso absoluto. Dirigida a estudantes da 1ª série do Ensino Fundamental até alunos do Ensino Médio, o evento permite a completa interação das crianças e dos jovens com o mundo das letras. Encontros com escritores, sessões de histórias contadas, teatro, dança, música e debates fazem parte da programação, que traz o mesmo tema do painel principal: Diversidade Cultural - o diálogo das diferenças.

4º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio

Evento paralelo da 11ª Jornada de Literatura, o 4º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio vai reunir teóricos de várias partes do mundo, a exemplo do que ocorreu em sua primeira edição, em 2002, na Universidade de Extremadura, na Espanha. Os debates incluem temas como cultura, leitura, patrimônio cultural, língua e literatura e já têm confirmadas as presenças de Ronald Jobe, da Universidade de Columbia, Gabriel Nuñez, da Universidade de Almeria, Pedro Cerrillo Torremocha, da Universidade de Castilla La Mancha, Marta Morais, da PUC do Paraná e da escritora e acadêmica Ana Maria Machado, entre outros.

Seminário Nacional de Jornalismo Cultural

Promovido em conjunto com a Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), o evento vai discutir as diferenças regionais, o jornalismo de Cultura, de Variedades, de Artes e de Espetáculos, em painéis coordenados por profissionais dos maiores jornais e revistas culturais do país.

Outras atrações

Durante os cinco dias da 11ª Jornada, Passo Fundo abrigará uma dezena de atrações artísttas, en re elas apresentações de Arthur Moreira e a pré-estréia do show de Antônio da Nóbrega, que só entrará em cartaz no circuito tradicional em setembro, além de performances ligadas ao tema da diversidade cultural.

Serviço
11ª Jornada Nacional de Literatura
Data: 22 a 26 de agosto de 2005
Local: Circo da Cultura
Passo Fundo - RS

· Inscrições

As inscrições estarão abertas a partir do dia 1º de junho e devem ser feitas exclusivamente pela internet no endereço www.jornadadeliteratura.upf.br . Foram criadas três diferentes modalidades de inscrição, que incluem a participação exclusiva na 11ª Jornada, ou a sua combinação com um ou mais eventos.

MODALIDADE 1
Participação exclusiva na 11ª Jornada Nacional de Literatura
Inscrição individual - R$ 80,00
Inscrição coletiva -- R$ 600,00 (reunião de 10 participantes - R$ 60,00 por pessoa)

MODALIDADE 2
Participação na 11ª Jornada Nacional de Literatura e um curso opcional
ou participação na 11ª Jornada Nacional de Literatura e no Encontro Nacional da Academia Brasileira de letras: revisitando os clássicos
ou participação na 11ª Jornada Nacional de Literatura e no Seminário Nacional de Jornalismo Cultural
Inscrição individual - R$ 85,00
Inscrição coletiva -- R$ 650,00 (reunião de 10 participantes - R$ 65,00 por pessoa)
.
MODALIDADE 3
Participação na 11ª Jornada Nacional de Literatura e no 4o Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio
ou participação exclusiva no 4º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio.
Inscrição individual - R$ 100,00
Inscrição coletiva -- R$ 800,00 (reunião de 10 participantes - R$ 80,00 por pessoa)


· Quadro de vagas

Palco de Debates e conferências: 4.500 vagas
Seminário da Academia Brasileira de Letras: revisitando os clássicos: 220 vagas
Seminário Nacional de Jornalismo Cultural: 400 vagas
4º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio Cultural com apresentação de comunicações: 180 vagas
Cursos opcionais: 2000 vagas
3ª Jornadinha Nacional de Literatura
§ 6000 vagas para alunos de 1ª a 4ª séries
§ 3000 vagas para alunos de 5ª a 8ª séries
§ 3000 vagas para alunos de Ensino Médio

Mais informações para a imprensa com Ivani Cardoso/Mary Zaidan (Lu Fernandes Escritório de Comunicação) pelo telefone (11) 381-4600

Curso Breve de Literatura Brasileira

Noticia hoje o Diário de Notícias o que a seguir transcrevo, com texto da jornalista Isabel Lucas:

"Publicar autores brasileiros que acrescentem a "sabedoria literária ocidental". É este o critério que está na base de Curso Breve de Literatura Brasileira, uma colecção de 16 volumes editada pela Cotovia e dirigida pelo ensaísta e professor de Literatura Brasileira da Universidade Nova de Lisboa Abel Barros Baptista. Do romance ao conto, da poesia à crónica, passando pelo teatro. Os clássicos, os desconhecidos, alguns inéditos e outros esquecidos. Desde o século XIX à actualidade e sem perder de vista o propósito inicial "divulgar obras e autores que seriam originais em qualquer língua e com contribuições para a literatura de qualquer país", explicou ao DN Abel Barros Baptista.

Machado de Assis, João Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade ou João Cabral de Melo Neto são alguns dos autores cuja "grandeza" não depende do âmbito nacional da literatura brasileira e que têm um alcance universal. Ainda que, muitas vezes, não inteiramente reconhecido, como esclarece Abel Barros Baptista, responsável pela selecção. "São autores que fizeram coisas inovadoras, originais", acrescenta. Há ainda os que, não tendo essa dimensão, determinaram a história das letras no Brasil.

De costas voltadas. O diagnóstico acerca do grau de conhecimento mútuo das duas realidades literárias portuguesa e brasileira parece simples de fazer. "Somos estrangeiros na mesma língua", declara Abel Barros Baptista.

Razões históricas e culturais podem explicar este convívio difícil entre o modo como o português de Camões evoluiu num e noutro país e, apesar das tentativas para contrariar ou minimizar os efeitos do afastamento - seja através de prémios que estimulem o conhecimento mútuo de autores, seja com a edição de revelações -, certo é que a aproximação tarda a acontecer. É neste contexto que surge esta colecção, a qual, segundo os seus mentores - André Jorge, responsável pela Cotovia, e Abel Barros Baptista -, "não tem a pretensão de mudar as coisas", mas de tornar disponíveis ao leitor português "as principais obras da literatura brasileira".

A começar pelas memórias. "Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte." A primeira frase do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, inaugura a colecção. Organizada cronologicamente - ainda que não de forma muito rígida -, começa com Assis, segue com As Aves Que Aqui Gorjeiam, uma colectânea da poesia do romantismo ao simbolismo, e repete Machado de Assis com a antologia de contos Um Homem Célebre. São estes os três títulos já disponíveis. Os restantes livros serão editados ao ritmo de um por mês e estima-se que a colecção esteja completa dentro de um ano.

Machado de Assis é, aliás, o único nome na ficção com direito a bis. "É o primeiro clássico importante da literatura brasileira", refere Abel Barros Baptista . E se a publicação de As Memórias Póstumas de Brás Cubas se explica por ser o primeiro grande romance de Assis, já a antologia de contos precisa de mais demoras na justificação. "Os contos são uma face muito ignorada do trabalho de Machado de Assis em Portugal. E estamos a falar, seguramente, do maior contista de língua portuguesa, além de ser um dos contistas a nível mundial que mais contribuíram para o estabelecimento do que hoje chamamos conto moderno. As pessoas sabem que ele é contemporâneo do Maupassant e do Tchekhov - autores geralmente apontados como os pais do conto moderno -, mas quando eles publicaram o primeiro livro já o Machado de Assis tinha publicado três livros de contos. É um contemporâneo que, em certa medida, antecipou muito do que eles viriam a fazer. O facto de escrever em português não lhe deu a visibilidade que merecia ter."

Feita a justificação do direito a bisar conferido a Machado de Assis, também os poetas Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira repetem a assinatura em mais do que um volume. Um e outro estão representados na antologia dedicada à poesia do modernismo de 20 a 30, "oito anos de transformação rápida e violenta não apenas da poesia mas da literatura e até da cultura e da sociedade brasileira. Eles estão lá representados porque integram o grupo dos principais poetas modernistas", como salienta Barros Baptista. Além disso, cada um tem um volume sobre a sua própria produção poética. (ver lista das obras).

O caso Drummond. Importa isolar aqui Drummond de Andrade e o título Claro Enigma (1951), considerado um livro de viragem na poesia brasileira. Editado quase a meio do século, passam por lá muitos dos problemas da poesia do século XX.

A leitura do seu legado é feita, mais uma vez, por Abel Barros Baptista. Estão lá a relação muito discutida na época entre poesia social e poesia pura; a reacção ao fim da II Guerra; o problema da militância política, do empenhamento do escritor; a questão, que depois se tornou banal, da relação do escritor com a tradição literária ocidental, e em particular com a portuguesa; a recuperação de formas do passado, como o soneto, que tinham sido abandonadas pelos modernistas. No fundo, o problema de como continuar a ser moderno depois da aventura modernista e a interrogação sobre a possibilidade de ser moderno recorrendo a formas antigas, que é um ponto importante ainda hoje em Portugal e que está naquele livro de uma forma muito aguda".

Dignos de antologia. Estas obras fundamentais assentam em dois pilares originais publicados na íntegra e antologias dedicadas a momentos particulares da literatura brasileira ou a géneros específicos (como o teatro de Nelson Rodrigues, que encerra a colecção).

No caso da poesia, há dois períodos a isolar. O modernismo da década de vinte, uma época de transformação com poetas que vão definir muito do que será a literatura brasileira do século XX. O outro situa-se na dica de cinquenta e é personificado na figura de João Cabral de Melo Neto, com repercussões em Portugal e uma "descendência um pouco heterodoxa", como chama Barros Baptista aos poetas concretos e neoconcretos. João Cabral de Melo Neto terá um livro autónomo, mas todos os poetas que começaram a trabalhar sob sua influência "directa, indirecta ou reclamada" serão objecto de uma antologia. O objectivo é só um. "Dar uma imagem desse filão da poesia brasileira que se mantém activa, ainda que os concretistas já não existam." E serve-nos a adjectivação para classificar essa poesia que lhe era tão avessa e próxima dos princípios de João Cabral de Melo Neto. A secura, a concisão, o lado substantivo da palavra, a experimentação e, sobretudo, o poema enquanto construção, "um lado construtivista muito forte e que está ainda muito presente na poesia brasileira, também objecto de uma antologia", esclarece o responsável por este Curso Breve...

No caso dos contos, a antologia dá privilégio a autores pouco conhecidos em Portugal, pelo menos enquanto contistas. Exemplo disso é Ruben Fonseca. Poucos terão a referência de que este escritor que venceu o Prémio Camões em 2002 foi um renovador do conto brasileiro nos anos 60. João António e Dalton Trevisan são outros dos nomes considerados fundamentais na arte das narrativas breves. A crónica, género de excelência no Brasil, é também alvo de antologia. Cultivada pelos principais nomes das letras, como Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, tem em Ruben Braga a maior referência.

Inéditos e uma grande ausência.

Entre os pontos de interesse desta colecção está o facto de editar pela primeira vez em Portugal livros que marcaram a cena literária no Brasil. É o caso de Os Ratos, de Dyonelio Machado, romance da segunda metade do modernismo que conta o drama do protagonista, que se vê na iminência de não poder alimentar o filho. Ainda O Amanuense Belmiro, de Cyro do Anjos. Um romance político-existencial, situado em Belo Horizonte, em 1930. Outro inédito é A Menina Morta, de 1956, assinado por Cornélio Penna, uma história de mulheres desencadeada pela morte da filha de um fazendeiro em vésperas da abolição da escravatura.

Grande Sertão Veredas (1956), de João Guimarães Rosa, não está incluído. Uma opção que se deve à extensão da obra, à existência de várias edições no mercado e, sobretudo, à dificuldade em negociar direitos com os herdeiros do escritor.

Sem a sua obra de referência, cabe a Primeiras Estórias representar a inventividade de linguagem de Guimarães Rosa, numa versão que mantém a grafia original. Uma característica comum aos 16 títulos da colecção. "Tomámos a decisão de não mexer nos textos. Adopta-se uma edição e segue-se esse texto. Com alguns prós e contras, isso ajuda a habituar os portugueses à leitura dos textos brasileiros".

Afinal, segundo Abel Barros Baptista, é aí que reside a origem de todo o problema do desconhecimento."

Aqui fica também a listagem de todos os títulos da colecção:

" 1. Memórias Póstumas de Brás Cubas

Machado de Assis

Introd. de Abel Barros Baptista

2. As Aves Que aqui Gorjeiam. A Poesia do Romantismo ao Simbolismo

Org. e introd. de Paulo Franchetti

3. Um Homem Célebre. Contos

Machado de Assis

Org. e introd. de Abel Barros Baptista

4. Seria Uma Rima, não Seria Uma Solução. A Poesia do Modernismo

Org. e introd. de Abel Barros Baptista e Osvaldo Silvestre

5. Libertinagem

Manuel Bandeira

Introd. de Roberto Vecchi

6. O Amanuense Belmiro

Cyro dos Anjos

Introd. de Alcir Pécora

7. Os Ratos

Dyonelio Machado

Introd. de Ettore Finazzi-Agrò

8. Claro Enigma

Carlos Drummond de Andrade

Introd.de Abel Barros Baptista

9. A Menina Morta

Cornélio Penna

Introd. de Roberto Vecchi

10. Primeiras Estórias

João Guimarães Rosa

Introd. de Clara Rowland

11. Laços de Família

Clarice Lispector

Introd. de Carlos Mendes de Sousa

12. A Educação pela Pedra

João Cabral de Melo Neto

Introd. de Carlos Mendes de Sousa

13. A Poesia "Pós-Cabralina" Concretos e depois

Org. e introd. de Carlito Azevedo

14. Cronistas Modernos

Org. e introd. de John Gledson

15. O Conto Contemporâneo

Org. e introd. de Alcir Pécora

16. O Teatro de Nelson Rodrigues

Org. e introd. de Bernardo Carvalho"

2005/07/09

Festa Literária Internacional de Parati 2005


Está a decorrer em Parati, no Brasil, a FLIP 2005, a terceira edição desta iniciativa, que novemente conta com a participação de escritores portugueses. Saiba tudo aqui.

2005/07/06

Prémio Literário DA: "Crisálidas" de Maria Mateus

O Prémio Literário “Diário do Alentejo”, atribuído à obra Crisálidas, de Maria Mateus, vai ser entregue no próximo dia 11 de Julho, em Beja, pelas 19 horas, na Associação de Municípios do Baixo Alentejo e Alentejo Litoral.

Deixo-vos aqui a notícia do Diário do Alentejo:
" [...]
A obra mereceu a unanimidade do júri – Paulo Barriga, jornalista, Luís Carmelo, escritor e professor universitário, e Carreira Marques, presidente da Câmara Municipal de Beja, e a vencedora, Maria Mateus, receberá um prémio pecuniário de 2 500 euros, estando prevista uma 1ª edição com uma tiragem de 500 exemplares.
O livro, Crisálidas, é composto por nove pequenas histórias, escritas sem interrupções durante noites a fio e pensadas para serem lidas como um todo. Entre elas não se evidencia um fio condutor, nem tão pouco são identificáveis pontos de ligação entre percursos e personagens. O que as une é a sua condição de "crisálidas": são histórias que se fecham em si próprias, qual lagarta dentro do seu casulo, à espera de um par de asas, que a torne borboleta, ou da morte sem metamorfose.Leitora e admiradora de Saramago, José Luís Peixoto, José Riço Direitinho, Manuel Alegre e Natália Correia, entre outros do panorama nacional, Maria da Graça Mateus, que concorreu sob o pseudónimo de Maria Ledo, nasceu em Santiago do Cacém, com raízes familiares em Cercal do Alentejo, e actualmente a reside a escassos quilómetros da cidade de Setúbal."


Plataforma Electrónica para o Ensino do Português à Distância

Como andará por aqui a Literatura Portuguesa?